Empresa de aliado de deputado foi contratada por cooperativa

Firma de empresário que fez dobradinha eleitoral com Baleia Rossi (PMDB) em 2014 foi responsável por obra suspeita da Coaf

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Por José Maria Tomazela
Atualização:
Obra de distribuidora da Coaf em terreno doado pela prefeitura de Bebedouro Foto: Epitácio Pessoa|Estadão

BEBEDOURO - A empresa contratada para a construção de um centro de distribuição da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), em Bebedouro, pertence ao empresário Gustavo Spido, que fez dobradinha com o presidente do PMDB estadual, Baleia Rossi, nas eleições de 2014. A obra, que recebeu repasse de R$ 384 mil do governo do Estado – de um contrato no valor total de R$ 1,2 milhão assinado em 2013 com a cooperativa – está paralisada.

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A Coaf foi o alvo principal da operação Alba Branca, do Ministério Público Estadual e da Polícia Civil, que apura superfaturamento de preços e pagamento de propina em contratos da merenda escolar.

Durante a investigação, Baleia Rossi foi apontado como um dos beneficiários do esquema. Spido concorreu a deputado estadual em 2014, mas não se elegeu – na mesma eleição, Rossi foi eleito deputado federal.

O empresário foi citado como suposto destinatário de R$ 200 mil que, segundo um dos presos na operação, Adriano Miller Gilbertoni Mauro, seriam, na verdade, para Baleia Rossi. Conforme Mauro, o próprio presidente da Coaf, Cássio Chebabi, teria se reunido com o peemedebista para entregar o dinheiro, mas voltou com a recomendação de que fosse entregue a Spido, o que também não ocorreu. Nessa época, o empresário estava em campanha ao lado de Baleia.

Ao Estado, Spido disse que a declaração de Mauro não tem fundamento, mas está sendo usada politicamente por adversários. “A única relação que tive com a Coaf se dá pelo fato de minha empresa (Spido Engenharia) ter sido subcontratada por uma construtora para desenvolver a estrutura metálica e instalações elétricas do packing-house, em área concedida pela prefeitura à cooperativa.”

A Coaf obteve da prefeitura a doação de uma área de 10 mil metros quadrados. Para custear a obra, o governo Geraldo Alckmin (PSDB) aprovou a liberação de R$ 800 mil pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento, por meio do projeto Microbacias II, com recursos do Banco Mundial. Para completar o custo de R$ 1,2 milhão, a Coaf entraria com outros R$ 400 mil.

Suspenso. O Estado chegou a liberar aproximadamente 49% (R$384 mil) do valor, mas suspendeu o repasse após a investigação sobre as fraudes na merenda virem à tona. A diretoria interina da Coaf afirma que a cooperativa chegou a aplicar R$ 200 mil, mas passou a atrasar as contraprestações.

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Segundo Spido, pelo contrato assinado com a construtora, a obra deveria durar 55 dias, mas em função das dificuldades da Coaf para honrar os pagamentos, o prazo acabou se prorrogando. A obra está parada e não há previsão de conclusão. Spido afirma que passou a fazer contato com a cooperativa na tentativa de receber o crédito de R$ 150 mil.

O empresário faz oposição ao prefeito Fernando Galvão (DEM) e se anuncia como pré-candidato à prefeitura nas eleições municipais de outubro. Segundo ele, o prefeito é que deve explicar os contratos da merenda escolar com a Coaf. “A prefeitura de Bebedouro foi a primeira a entrar na lista das investigadas”, disse.

A força-tarefa do MP e Polícia Civil envolvida na operação esteve no prédio da prefeitura e apreendeu documentos e arquivos de computadores. A ação teve origem em depoimento do ex-colaborador da Coaf, José Roberto Fossaluza Júnior, que apontou o então diretor de Compras e Licitação do município, Paulo Sérgio Garcia, como a pessoa que negociava contratos da prefeitura, supostamente superfaturados, com o então presidente da Coaf.

Disputa. Garcia, que atualmente chefia o gabinete da prefeitura, disse que seu nome foi citado por vingança, por ele ter se negado a reconhecer a autenticidade de certidões apresentadas por Fossaluza para obter um empréstimo. “Ele saiu daqui dizendo que ia me prejudicar, logo depois prestou o depoimento à polícia envolvendo meu nome.”

Fossaluza não foi localizado pela reportagem. O prefeito informou que os contratos com a Coaf foram regulares.

A reportagem não localizou ontem Baleia Rossi, que nega envolvimento com a chamada “máfia da merenda”. Na sexta-feira, ele disse ao Estado que trata-se de uma disputa política local. “É uma briga local, pois apoio o Spido.” / COLABOROU PEDRO VENCESLAU